Rotary apoia pesquisa inédita no Brasil sobre Zika vírus

Por Aurea Santos, especialista em Comunicação do Rotary International

Médicos conversam em laboratório equipado pelo Rotary

Rotary investiu US$ 39.500 para equipar laboratório

Em 2015 e 2016, o Brasil sofreu com a epidemia do Zika vírus, na qual a consequência mais marcante foi o nascimento, em muitas partes do país, de crianças com microcefalia, causada pela infecção da mãe durante a gravidez. Foi nesse contexto que o Rotary Club Jundiaí -Serra do Japy desenvolveu um projeto para equipar um ambulatório de pesquisa para acompanhamento de crianças expostas ao vírus, que trabalha de maneira inédita no Brasil.

“Nosso estudo é o único no Brasil que tem acompanhamento das gestantes e das crianças. Acompanhamos crianças normais que nasceram no mesmo período e comparamos com as doentes. Vemos quais as diferenças nos dois casos e conseguimos avaliar os riscos”, explica Saulo Duarte Passos, pesquisador principal do COHORT Zika-Jundiaí e professor titular do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina de Jundiaí.

O projeto de acompanhamento de mães e crianças teve início em março de 2016, dentro da Faculdade de Medicina de Jundiaí, mas não contava com os equipamentos necessários para o desenvolvimento adequado da pesquisa e tratamento de todas as crianças. Foi apenas em 2018, quando Passos teve contato com o Rotary Club local que o projeto do ambulatório de pesquisa começou a se tornar realidade.

“Tivemos muitos casos de Zika na região e o professor Saulo foi convidado para dar uma palestra no Rotary sobre a pesquisa que ele estava liderando”, conta Alexandre Censi, membro do Rotary Club Jundiaí -Serra do Japy, que liderou o projeto. “Ele nos passou a descrição dos equipamentos e os benefícios que poderiam ser colhidos com isso”, complementa.

Com o espaço cedido pela prefeitura da cidade e pela Faculdade de Medicina de Jundiaí, foi possível realizar a instalação do ambulatório, que é ligado ao Hospital Universitário. O Rotary de Jundiaí equipou 100% do ambulatório, o que inclui aparelhos de uso médico, mobília e equipamentos de informática. O total investido foi de US$ 39.500, com apoio do Rotary Club Central Chester County, de Lionville, Pensilvânia, nos Estados Unidos, e da Fundação Rotária.

“O objetivo da pesquisa é entender a Síndrome da Zika Congênita, seus fatores de risco e a evolução da criança”, destaca Passos. “O ambulatório acompanha o desenvolvimento neuropsicomotor, o crescimento e desenvolvimento da criança (peso e altura), e as complicações que a doença causa”, diz.

O médico e sua equipe acompanham 690 mães desde a gestação e outras 133 que entraram no estudo posteriormente, em um total de 823 casos estudados. Deste total, 58 crianças nasceram com microcefalia e estão sendo tratadas e estudadas pela equipe de Passos, composta por 15 profissionais.

No ambulatório, que ao mesmo tempo que presta atendimento médico, serve de local de pesquisa sobre o Zika vírus e suas consequências, a equipe acompanha cerca de 500 crianças, com e sem microcefalia, fazendo a comparação entre elas para analisar os efeitos do vírus. As crianças sem microcefalia fazem parte do grupo de controle (aquele com o qual se compara o grupo que está sendo avaliado).

Passos destaca a importância desse grupo de controle, já que há fatores de risco que aumentam a chance de mulheres gestantes terem filhos com microcefalia. Alguns desses fatores são a incompatibilidade sanguínea entre mãe e bebê, obesidade e hipertensão, entre outros de menor relevância.

Há, porém, crianças que desenvolveram microcefalia por outros fatores, que não a infecção pelo vírus. “Muitas crianças com microcefalia tiveram restrição de crescimento intrauterino, que tem inúmeras causas”, conta o médico. Existem ainda as crianças que nasceram com microcefalia sem que isso esteja relacionado ao Zika vírus, mas sim a outros patógenos.

Com tantos fatores a serem analisados, a equipe de Passos faz o acompanhamento mensal das mães e das crianças. As que têm microcefalia fazem diferentes tratamentos, como de fisioterapia e fonoaudiologia. Elas também têm atendimento pneumopediátrico, de infectologia, odontologia e musicoterapia. Uma sequela comum que o Zika vírus também deixa nas crianças é a deficiência visual. De acordo com o médico, 25% das crianças com mães que foram expostas ao vírus tiveram problemas de visão, explica Passos sobre descoberta feita em parceria com o Instituto de Psicologia da USP.

O envolvimento do Rotary Club de Jundiaí no projeto do ambulatório de pesquisa foi benéfico para os dois lados. Ao liderar o projeto dentro do clube, Censi conta que aprendeu bastante sobre o tema enquanto o estudava para o desenvolvimento de seu trabalho. “Para escrever o projeto, eu o acompanhei por cerca de seis meses. É muito importante para nós, membros do Rotary, saber se o investimento será bem aplicado”, aponta.

Já o professor Passos destaca “a amplitude do que o Rotary fez” para o projeto. Ele conta que o ambulatório, além do trabalho sobre o Zika vírus, também dá assistência a crianças que saíram da UTI, da enfermaria e ainda para prematuros. “Essas crianças terão um espaço com atendimento por médicos especialistas, que não seria possível se não tivéssemos o ambulatório”.

O trabalho de pesquisa sobre o Zika vírus realizado em Jundiaí é feito em parceria com instituições nacionais e internacionais, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de S. Paulo (Fapesp), Universidade de São Paulo (USP), Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, Universidade de Barcelona, Universidade de Santiago de Compostela, Universidade do Sul da Flórida, Universidade de Estocolmo e o Ministério da Saúde do Brasil.

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